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Votos comprados com dinheiro falso no Ceará
PF e Justiça Eleitoral investigam denúncia de eleitores

Norma Moura

BRASÍLIA

Dois meses após empossar o novo prefeito, a pequena São Benedito, a 360 km de Fortaleza, corre o risco de sofrer uma reviravolta no comando da cidade por conta de uma denúncia de compra de votos. O que deveria ficar na esfera eleitoral foi parar na Polícia Federal, que investiga agora o uso de dinheiro falso para a suposta prática de captação ilegal de sufrágio.

Segundo a Polícia Federal no Ceará, os inquéritos foram instaurados e estão em andamento, na fase de intimação. Com a ajuda do Banco Central, a PF irá realizar perícia nas cédulas anexadas ao processo apresentado pelo Ministério Público Eleitoral e ouvir os eleitores que aparecem em um video feito pela oposição.

Na filmagem, eleitores afirmam terem sido abordados durante o período eleitoral por correligionários do atual prefeito, Junior Brandão (PMDB), que ofereciam entre R$ 100 e R$ 200 – em notas de R$ 10 a R$ 100 – em troca do voto ou o título do eleitor. O caso só teria vindo à tona após os supostos aliciados comprarem produtos com o dinheiro na feira da cidade e os feirantes desconfiarem que o dinheiro valia tanto quanto uma nota de R$ 3. A coligação que apoiou o ex-prefeito Haroldo Maciel (PCdoB) acionou o Ministério Público para dar início à ação de impugnação de mandato eletivo.

Cidade dividida

A guerra política que divide a cidade de cerca de 25 mil eleitores começou logo após a divulgação do resultado das eleições, que desbancaram o então prefeito, Haroldo, e trouxeram de volta ao poder a família Brandão, que há três décadas domina a política local. Funcionário de uma farmácia de São Benedito, um balconista que preferiu não se identificar defende que tudo não passa de mentira, inventada por quem perdeu. Já um outro morador ouvido pela reportagem diz que acredita que tenha havido compra de votos, o que não seria novidade. Esse costume nada democrático é confirmado pelo ex-prefeito Haroldo Maciel.

– Compra de votos aqui é algo normal, mas desta vez os eleitores resolveram denunciar porque se sentiram enganados ao perceberem que o dinheiro era falso – denuncia Haroldo, que afirma ainda que o esquema não se resumia a convencer o eleitor, e incluía reter o título e a identidade para garantir que o voto seria depositado em nome de Junior Brandão. Para o atual prefeito, tudo não passa de choro de perdedor.

– Isso é desespero de quem perdeu. São acusações sem fundamento, feitas a partir de documentos forjados – rebate Junior Brandão. – Tudo montado, provavelmente por gente ligada ao ex-prefeito. Não conheço esses denunciantes, mas posso dizer que quem entregou esse dinheiro supostamente falso às autoridades foram eles, não eu – ataca.

Advogado de defesa do atual prefeito de São Benedito, Fernando da Escóssia argumenta que a ação proposta tem como base pedaços de títulos que teriam sido achados em frente a uma gráfica de propriedade de um correligionário de Junior Brandão.

– Eles alegam que os tais títulos estariam sendo copiados em cores naquele local, isso sem qualquer base de prova, a não ser a argumentativa – diz Escóssia.

Haroldo Maciel aposta nos depoimentos dos envolvidos para tentar voltar à prefeitura.

– Nossa arma são os testemunhos. Tem gente quem, mesmo tendo participado do esquema, concordou em depor. Isso vai provar que houve compra de votos – acredita Maciel. – Além disso, a polícia vai constatar que o dinheiro é falso, vindo provavelmente de Nova Aliança, cidade conhecida como terra dos falsificadores de cartões.

Chefe de gabinete de Junior Brandão, a mãe do prefeito, Simone Brandão, sai em defesa do filho e joga mais lenha na fogueira.

– O povo escolheu o Junior por ser um rapaz jovem, dinâmico. Além disso, o PMDB nem tinha dinheiro para fazer isso, ao contrário de quem tinha o domínio da máquina administrativa – alfineta. – Quem estava na gestão carregou tudo da prefeitura, até telefones e livro de transição – acusa.

Quinta-feira, 12 de Março de 2009 - 00:00


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